Hexagrama 62. Preponderância do pequeno.
Como no hexagrama anterior, segue o alerta para nos atentarmos ao corpo, retomando também fundamentos das práticas da Alquimia Interna.
“A Preponderância do pequeno é semelhante a um pássaro. O perigo aqui consiste em subir alto demais e perder o contato com o solo sob seus pés.” ¹
“Um pássaro não deve se superestimar tentando voar em direção ao sol; ele deve descer para a terra onde está seu ninho. Assim, ele transmite a mensagem anunciada pelo hexagrama” ²
“Assim, o homem superior extrai dessa imagem um imperativo: ele deve, em todos os momentos, fixar sua atenção mais detalhada e diretamente sobre o dever do que o homem comum, mesmo que isso possa fazer a sua conduta parecer mesquinha aos olhos do mundo.” ³
“Quando se atira demasiado para o alto, o alvo não será atingido. Se o pássaro não retorna ao seu ninho, porém voa cada vez mais para o alto, acaba por cair na rede do caçador. Aquele que não sabe se conter durante o período em que a tendência a pequenas coisas é preponderante e que, irrequieto, insiste em forçar seu caminho para adiante cada vez mais, atrai sobre si o infortúnio tanto da parte dos deuses como dos homens. Isso ocorre porque ele se afastou da ordem da natureza.” ⁴
Aqui o alerta em relação as leis da natureza são bem enfáticos, e é apresentada a idéia de que, necessariamente, a decadência, se não trabalhada, leva a uma situação ainda pior, infinitamente. Essa idéia, contida também em outros hexagramas, carrega em si o outro lado: se a força não for constantemente trabalhada, lapidada, necessariamente entrará num movimento decadente, ou de infortúnio. Não há, portanto, o ponto de chegada tão almejado pelo homem comum. Só há movimento.
A conexão da terra com os pés nos fornece a energia essencial na sua forma condensada, Jing. Na Alquimia Interna existem práticas em que criamos um motor de força Jing dentro do próprio corpo e enviamos essa energia para cada órgão a fim de potencializar seu funcionamento. Essa é de modo simples a descrição de uma das práticas que relacionam os cinco elementos com o equilíbrio das emoções acumuladas nos órgãos e a potencialização de suas virtudes.
Jing, energia essencial e fria que sobe da terra pelo R1 nos pés, e se armazena principalmente nos Rins. O Jing é um tipo de energia condensada; ao condensar o Qi, geramos o Jing dentro do corpo. O Jing então representa também uma reserva de energia. O Qi é uma energia que nós usamos a todo o momento, inclusive no simples ato de respirar, já o Jing é uma reserva de energia condensada que fica armazenada. Os rins são considerados a porta da vida na alquimia interna taoista, e estão essencialmente relacionados aos órgãos reprodutores, tanto que um períneo sem sensibilidade possibilita que o Jing saia deliberadamente do corpo. Esgotando assim a reserva de energia e deixando o corpo viver num limite constante de emergência ou sobrevivência.
Especialmente aqui a ligação entre o corpo e o elemento terra nos traz essa idéia do dever que propicia a potência.
¹ in I Ching: o livro das mutações, Hexagrama 62 Preponderância do pequeno, p. 509. Tradução do chinês para o alemão, introdução e comentários Richard Wilhelm. Tradução para o português Alayde Mutzenbecher e Gustavo Alberto Corrêa Pinto. São Paulo: Editora Pensamento, 2006.
² in I Ching: o livro das mutações, Hexagrama 62 Preponderância do pequeno, p. 189. Tradução do chinês para o alemão, introdução e comentários Richard Wilhelm. Tradução para o português Alayde Mutzenbecher e Gustavo Alberto Corrêa Pinto. São Paulo: Editora Pensamento, 2006.
³ in I Ching: o livro das mutações, Hexagrama 62 Preponderância do pequeno, p. 189. Tradução do chinês para o alemão, introdução e comentários Richard Wilhelm. Tradução para o português Alayde Mutzenbecher e Gustavo Alberto Corrêa Pinto. São Paulo: Editora Pensamento, 2006.
⁴ in I Ching: o livro das mutações, Hexagrama 62 Preponderância do pequeno, p. 191. Tradução do chinês para o alemão, introdução e comentários Richard Wilhelm. Tradução para o português Alayde Mutzenbecher e Gustavo Alberto Corrêa Pinto. São Paulo: Editora Pensamento, 2006.
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