O hexagrama ALEGRIA evoca a verdade e a força do coração.
Após a solidão do viajante e a conquista da suavidade, há oportunidade para a união.
“A verdadeira alegria baseia-se numa firmeza e força interior, expressando-se no plano externo através de suavidade e gentileza.” ¹
“Lagos que repousam um sobre o outro: a imagem da ALEGRIA. Assim o homem superior reúne-se a seus amigos para debater e praticar. Um lago evapora, e pouco a pouco, vai se esgotando. Mas quando dois lagos estão unidos, eles não secam tão facilmente, pois um alimenta o outro. ” ³
Esse hexagrama em especial traz uma leitura muito suave mas ao fim revela verdades sutis e perturbadoras sobre o modo de vida que tendemos a escolher. Suas linhas mutantes nos atentam aos perigos que inclusive a alegria pode proporcionar. “Seu estado de mutação é o metal. A qualidade cortante e destrutiva é o outro lado da alegria” ⁴
Seis na terceira posição: “Alegria que chega. Infortúnio! A verdadeira alegria deve brotar do interior. Mas quando uma pessoa está inteiramente vazia e entregue por completo ao mundo, suas fúteis alegrias vêm então do exterior. É o que muitas pessoas buscam como diversão. Pessoas interiormente instáveis que, por isso, têm necessidade de entretenimentos, sempre encontrarão oportunidade para se divertir. Elas atraem os prazeres externos em virtude do vazio de seu mundo interno. Com isso, perdem-se cada vez mais, o que naturalmente provoca o infortúnio. ” ⁵
Nove na quinta posição: “Elementos perigosos aproximam-se mesmo dos melhores homens. Quando lhes é dado o acesso, sua influência destrutiva passa a agir, lenta porém seguramente. Isso sem dúvida acarreta perigo. Porém, aquele que reconhece essa situação e compreende o perigo saberá proteger-se e estará a salvo.” ⁶
Seis na sexta posição: “Alegria sedutora. Uma pessoa fútil atrai os prazeres dos divertimentos e sofrerá por isso. Se um homem carece de firmeza interior, os prazeres do mundo aos quais não evitou exercem tal pressão, que vêm arrastá-lo. Não é mais uma questão de perigo, de boa fortuna ou infortúnio. Ele abdicou do comando de sua própria vida. Sua sorte depende agora do acaso e das influências externas.” ⁷
O quanto não passamos a vida variando entre modos de nos entreter? E ao agir assim, o quanto nos sentimos no comando quando na realidade estamos sendo comandados?
O hexagrama Alegria traz profunda reflexão, mas infelizmente, ainda que suas palavras sejam bem claras, seus ensinamentos não são fáceis de colocar em prática.
Na maioria das vezes não conseguimos diferenciar desejo de entretenimento. Não percebemos que de fato estamos em busca de entretenimento mesmo quando dizemos eu te amo para um companheiro. Precisaríamos antes nos trabalhar internamente para não nos relacionarmos como meio de abafar a fraqueza interna. Esse hexagrama revela, nesse sentido, um ponto de vista em que o amor pode ser sintoma de carência. E a alegria apenas um meio fútil e mentiroso de ação.
¹ in I Ching: o livro das mutações, p. 177. Tradução do chinês para o alemão, introdução e comentários Richard Wilhelm. Tradução para o português Alayde Mutzenbecher e Gustavo Alberto Corrêa Pinto. São Paulo: Editora Pensamento, 2006.
² in I Ching: o livro das mutações, p. 177. Tradução do chinês para o alemão, introdução e comentários Richard Wilhelm. Tradução para o português Alayde Mutzenbecher e Gustavo Alberto Corrêa Pinto. São Paulo: Editora Pensamento, 2006.
³ in I Ching: o livro das mutações, p. 178. Tradução do chinês para o alemão, introdução e comentários Richard Wilhelm. Tradução para o português Alayde Mutzenbecher e Gustavo Alberto Corrêa Pinto. São Paulo: Editora Pensamento, 2006.
⁴ in I Ching: o livro das mutações, p. 495. Tradução do chinês para o alemão, introdução e comentários Richard Wilhelm. Tradução para o português Alayde Mutzenbecher e Gustavo Alberto Corrêa Pinto. São Paulo: Editora Pensamento, 2006.
⁵ in I Ching: o livro das mutações, p. 178. Tradução do chinês para o alemão, introdução e comentários Richard Wilhelm. Tradução para o português Alayde Mutzenbecher e Gustavo Alberto Corrêa Pinto. São Paulo: Editora Pensamento, 2006.
⁶ in I Ching: o livro das mutações, p. 179. Tradução do chinês para o alemão, introdução e comentários Richard Wilhelm. Tradução para o português Alayde Mutzenbecher e Gustavo Alberto Corrêa Pinto. São Paulo: Editora Pensamento, 2006.
⁷ in I Ching: o livro das mutações, p. 179. Tradução do chinês para o alemão, introdução e comentários Richard Wilhelm. Tradução para o português Alayde Mutzenbecher e Gustavo Alberto Corrêa Pinto. São Paulo: Editora Pensamento, 2006.
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